IN MEMORIAM

A MÁQUINA ELETRÔNICA DE 1990,

ELEIÇÃO ELETRÔNICA

OU URNA ELETRÔNICA DO PAROBÉ


Conforme informação obtida do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) [1] , em 1989, o juiz eleitoral da cidade de Brusque-SC, Carlos Prudêncio, em caráter experimental, organizou uma seção informatizada, em que autoridades municipais e representantes dos partidos políticos puderam teclar seus escolhidos em um terminal de computador AT-38632. O sistema projetado funcionava com cartão perfurado e transmissão via telefone, completamente diferente da urna adotada a décadas depois pelo TSE, pois o modelo que foi proposto apresentou problemas e não funcionou corretamente, segundo o relato do Sr. Juiz Niederauer (TRE-RS) em entrevista com os desenvolvedores da Urna Eletrônica na Escola Técnica Parobé.

O modelo que era completamente diferente do adotado antes do advento da urna eletrônica do Parobé, pois funcionava da seguinte forma: em vez de digitar o número dos candidatos numa tela, os eleitores preenchiam uma cédula que passava por um leitor óptico semelhante ao das casas lotéricas. "Depois, o eleitor colocava a cédula já 'carimbada' pela máquina numa urna convencional". Ao final do pleito, para apressar a apuração, os dados registrados pela máquina eletrônica eram encaminhados a um computador central via telefone. As cédulas de papel ficavam armazenadas na urna convencional para eventual checagem em casos de dúvida.

Paralelamente, em 1990 foi idealizado, criado e realizado na Escola Técnica Parobé uma votação eletrônica, ver Figura 1. O teste de uma votação informatizada foi acompanhado pelas principais mídias da época (televisionado no Jornal Nacional, Fantástico e Bandeirantes e, impresso no Jornal Correio do Povo e Zero Hora) onde se apresentou efetivamente em funcionamento a Urna Eletrônica nos moldes de funcionamento dos dias de hoje.

PAROBÉ APRESENTA ELEIÇÃO ELETRÔNICA


O Sr. Juiz Gilberto Niederauer Correa (Presidente do TRE-RS, na época, ver Figura 2) compôs a “Comissão de Informatização das Eleições Municipais”, que segundo o TSE [1], foi decisiva para definição da urna eletrônica. Essa comissão trabalhou de abril a agosto de 1995 e os documentos produzidos em seus encontros pautaram todo o desenvolvimento da urna eletrônica brasileira.


PRESIDENTE DO TRE TESTA MÁQUINA ELETRÔNICA DE VOTAR


Ocorre que o sistema adotado (TSE, Figura 3 foi apresentado seis anos antes na Escola Técnica Parobé como um trabalho aos alunos do Setor Informática. Foi desenvolvido na disciplina de informática ministrada pelo então professor Eng. Luiz Guerra Piccoli, onde o tema era elaborar um programa computacional, sobre “Eleições - Apuração”. Como os alunos não conseguiram desenvolver o trabalho proposto, o próprio professor (Luiz Guerra Piccoli e seu filho Leonardo Bisch Piccoli, com 13 anos, então estudante de eletrônica), desenvolveram o trabalho proposto aos alunos, onde foi criado o 'Sistema de Coleta e Apuração de Votos ou Sistema Eletrônico de Votação e Apuração', justificando o tema do trabalho proposto aos alunos, junto a direção da Escola.

Foi então que surgiu na Escola Técnica Parobé a 'urna eletrônica' em forma de cabine, monitor, sinal de bipe e teclado numérico, de forma muito similar ao modelo adotado e usado atualmente pelo TSE. Coube ao prof. Eng. Luiz idealizar e realizar o sistema e a esquematização do programa, enquanto ao Leonardo a interface gráfica, resolução de algumas rotinas e compilar para linguagem de código de máquina Assembly (código protegido), pois o programa fonte foi estruturado e desenvolvido na linguagem de programação Basic.

A apresentação foi realizada em um computador Apple II, que na época já estava sendo substituído pelos PCs (Personal Computer) e foi testada com sucesso pelos alunos, junto a direção da Escola, professores, imprensa televisionada e escrita, delegada de ensino Tânia Maria Heinrich, juiz do TSE-RS Sr. Niederauer e assessores, entre outros convidados.

Máquina contra fraude faz 10 anos

O projeto vinha propor a suprir o sistema de votação e apuração da época, pois era demorado e cheio de contestações, com esperas de dias para sair o resultado final das eleições e ainda com custos muito altos.

O prof. Eng. Luiz e o estudante Leonardo simplificaram todo o processo, colocando em um computador, o sistema de coleta de dados e apuração final da seção de votação, pelo próprio presidente da mesa. Consistia na escolha dos nomes propostos na tela do monitor (candidatos – na época foi dos governadores na eleição de 1990), digitado o número correspondente ao candidato, o bip da confirmação do numero, da gravação dos dados em um disquete, a impressão em papel (onde seria assinado pela composição da mesa da seção) e no final da votação a destruição do programa, a fim de evitar manipulação posterior dos dados coletados na memória do computador. Os dados em disquete (e também gravados em chip) eram remetidos a uma central que iria computar os dados daquela zona eleitoral e assim sucessivamente ate a central final de apuração, onde seria usada a mesma estrutura que recebia as urnas de papel.

Na época, a internet estava no seu início, logo, os dados eram remetidos via normal. Mas, os dados impressos, que seriam a prova do resultado daquela seção eleitoral, poderiam ser em caráter imediato, transmitido via telefone. Naquela época, por questão de segurança, conforme relato do Eng. Luiz , ao Sr. Juiz Niederauer e o seu secretário Jorge Freitas, quando lhe questionaram sobre a segurança do processo, e este lhe afirmou que os dados poderiam também ser gravados em um chip, como prova final da seriedade dos dados coletados e se houvesse algum problema na seção, este seria facilmente detetado, pois o presidente de mesa seria o responsável direto pelo processo, bem como a equipe que alimentou os equipamentos usados nas seções eleitorais.

O restante do sistema eleitoral não seria alterado e nem tinha o porque na época, como não foi até hoje. O problema era a coleta e apuração dos votos, que o sistema veio a resolver, diminuindo o tempo do processo de votação, apuração e como consequência o número de seções eleitorais. Hoje com a tecnologia existente, o sistema está sendo sempre aprimorado o seu hardware, aumentando com certeza a sua velocidade e confiabilidade nas eleições. A base para o sistema adotado pelo TSE, permanece o mesmo demonstrado na Escola Técnica Parobé, onde recebeu a denominação popular de 'Urna Eletrônica' como poderia receber o nome de 'Sistema Eletrônico de Votação e Apuração'.

Conforme continua a relatar o Eng. Luiz, na reunião em portas fechadas com o Sr. Juiz Niederauer e o seu secretário, onde foi explicado e respondidas todas as perguntas formuladas, sobre o processo eletrônico de Votação, foi comentado pelo Juiz Niederauer, que se tivesse tempo, o sistema poderia ser usado em paralelo ao voto de papel, naquelas eleições. Também, lhe foi oferecido o livre acesso ao processo eleitoral do segundo turno de 1990, pelo Sr. Juiz Niederauer e este aceitou a contribuir para o desenvolvimento do 'Sistema Eletrônico de Votação e Apuração'.

A urna só não decolou e não foi desenvolvida no Parobé, pois ao começar as tratativas para o seu desenvolvimento, foi descoberto irregularidades na administração do Diretor Professor Luiz Carlos Gré da Silva, onde acabou em uma CPI e o seu posterior afastamento.

Por falta de investimento e apoio de órgãos de fomento e mesmo a dificuldade em patentear o 'Sistema Eletrônico de Votação e Apuração' na época, o projeto parou na sua concepção. Esperava-se a participação e contribuição do TRE-RS, mas o mesmo nunca mais se manifestou sobre o assunto diante aos autores e a própria Escola Técnica Parobé, demonstrando na época um certo desinteresse pelo 'Sistema Eletrônico de Votação e Apuração - Urna Eletrônica', que hoje é adotado pelo TSE.

O computador, o monitor e o programa original, que foram usados naquela época, existe até hoje. Esperamos ter resgatado e esclarecido a memória da chamada “Urna Eletrônica” ( Sistema Eletrônico de Votação e Apuração), que ainda hoje não foi esclarecido oficialmente a sua origem e concepção.


As pessoas envolvidas pelo desenvolvimento e participação da máquina de votar no Parobé em 1990, foram:

  • Desenvolvimento:

  1. Luiz Guerra Piccoli: (Engenheiro e programador) : tel 55 4052 9250 - luigi at piccoli.ind.br

  2. Leonardo Bisch Piccoli (Engenheiro e programador) : tel 51 3519 9787 - leonardo at piccoli.ind.br

  • Participação na apresentação:

  1. Francisco Alberto Rheingatz Silveira (Professor de informática na época) : tel 51 3248 5987 - farsilveira at pucrs.br

  2. Sergio J. Chiorri (coordenador do Setor de Informática na época) - tel 51 3233 7969 ou 51 3233 0616

  3. Juiz Gilberto Niederauer Correa (Juiz do TRE-RS - 12mar1990 a 10mar1993) : (Juiz Eleitoral na época, no qual foi fornecido todo o sistema de votação e apuração) – tel 51 3267 1568

  4. Juiz Adroaldo Furtado Fabricio (TRE-RS): Comissão Apuradora do TRE-RS – na época – tel 51 3311 4258

  5. Leonel Tozzi – Diretor Geral do TRE-RS - na época – tel 51 3340 4294

  6. Tania Maria Heinrich – Delegada de Ensino na época – 1ª Delegacia


Referências:

[1] TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL. Voto Eletrônico. Edição Comemorativa: 10 anos da Urna Eletrônica, 20 anos do Recadastramento Eleitoral . Porto Alegre: TRE-RS / Centro de Memória da Justiça Eleitoral, 2006.

[2] PAROBÉ APRESENTA ELEIÇÃO ELETRÔNICA. Correio do Povo , Porto Alegre, 14 novembro de 1990.

[3] PRESIDENTE DO TRE TESTA MÁQUINA ELETRÔNICA DE VOTAR. Zero Hora , Porto Alegre, 14 novembro de 1990.

[4] MÁQUINA CONTRA FRAUDE FAZ 10 ANOS. Correio do Povo , Porto Alegre, 23 julho de 2006.


Anexos:

Parobé apresenta eleição eletrônica


Um projeto denominado “Eleição Eletrônica" foi apresentado ontem pelo Centro de Informática da Escola Técnica Parobé ao presidente do TRE. desembargador Gilberto Niederauer Corrêa. O novo sistema consiste na Instalação de um terminal, junto a cada seção eleitoral, ligado a um computador central onde o eleitor precisaria apenas apertar uma tecla para indicar o candidato escolhido. A identificação do concorrente seria feita através do próprio nome ou número do político ou de uma cor, facilitando a operação para os analfabetos.

A grande vantagem é com relação a apuração dos votos, uma vez que logo após o término do pleito o computador forneceria o resultado final, dispensando o escrutínio manual. O responsável pela elaboração deste trabalho, professor Francisco Silveira, salientou que a probabilidade de erros é nula uma vez que a pessoa só poderá teclar uma vez. Ele explicou que toda a votação ficará armazenada na memória do computador. para consultas ou contestação do resultado.

Para o presidente do TRE “O projeto foi um avanço tecnológico que merece todo o apoio e incentivo. Reduziria em até 80% os custos do processo eleitoral, que somente neste ano ficaram em torno de Cr$ 200 milhões. Gilberto Niederauer salienta que "é multo importante esse tipo de Investimento. por parte da Iniciativa privada, para valorizar o trabalho das escolas técnicas". Como experiência, o sistema será utilizado nas eleições para a direção da Escola Parobé. no próximo ano.

 

Texto da Figura 1: Reportagem do jornal Correio do Povo (14/11/1990).



Presidente do TRE testa máquina eletrônica de votar


Equipamento que permite computar imediatamente os votos e reduz em 80% os custos da eleição foi desenvolvido por alunos do Parobé


Os alunos da Escola Técnica Parobé, de Porto Alegre projetaram uma "máquina de votar", capaz de reduzir o custo de uma eleição em 80% e de fornecer o resultado minutos após a votação. A eleição deste ano está custando as cofres públicos em torno de Cr$ 200 milhões. O projeto desta máquina, que terá o tamanho de urna calculadora de bolso, foi apresentado ontem ao desembargador Gilberto Niederauer Corrêa, presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que fez muito elogios.

O convite ao desembargador teve o objetivo conseguir apoio do TRE para financiar este projeto. O custo de cada "máquina de votar" é de Cr$ 25 mil, explicou o professor Luiz Carlos Gré da Silva, diretor do Parobé, que tem 3.200 estudantes e 200 professores e o titulo de escola técnica mais eficiente do Sul do Brasil.

Esta máquina seria usada dentro de um esquema de informatização de todos os estágios do processo da eleição. Ela ficaria dentro da cabine de votação, ligada a uma central de computação, como acontece nos países desenvolvidos. Atualmente, apenas é informatizada a documentação das eleições, representando em torno de 10% do processo todo.


DINHEIRO - Os professores e alunos do Parobé fizeram uma eleição informatizada simulada entre os candidatos X, Y e Z para demonstração do aparelho. No lugar da máquina de votar foi usado um terminar ligado a um microcomputador. Segundo o professor de informática Francisco Silveira, a intenção era mostrar ao desembargador a eficiência do sistema. "A próxima eleição para diretor, em outubro do ano que vem, será toda informatizada", avisou o diretor Silva. Será usada, talvez pela primeira vez na história gaúcha, a "máquina de votar".

"Esta iniciativa valoriza o ensino público, e mostra que a fase da decadência das escolas técnicas já passou", opinou a professora Tânia Maria Heinrich, da 1ª Delegacia de Educação. O desembargador Niedeauer reconheceu as vantagens da máquina e da informatização de todo o sistema ao processo eleitoral. "Mas não temos dinheiro para isto", lamentou.

 

Texto da Figura 2: Reportagem do jornal Correio do Povo (14/11/1990).

 
 
  Agradecimento pela leitura,
Leonardo Piccoli e Luiz Guerra Piccoli